19 outubro 2012

Caprichos e Rabiscos


Eu podia ler a mente raivosa da atendente me mandando enfiar o salto turquesa no meu traseiro mimado, enquanto ela guardava o último par de volta. Que culpa eu tinha se eles eram muito mais bonitos na vitrine?
Eu sei oque você está pensando, e sim sou caprichosa. Caprichosa, mimada e exigente. Acho que é resultado de uma boa criação dos pais somado ao egocentrismo típico de uma ariana nativa. Ao contrario da grande população mundial, eu não vejo isso como um defeito, e sim como uma superioridade, assim como pedras preciosas eram difíceis de encontrar, pessoas valiosas supostamente são difíceis de lidar.
Mas ora, onde é que estão os diamantes? Parece que o mundo esta repleto de cacos de vidro, não se encontra uma alma interessante, não se encontra uma que de fato valha a pena. Eu tinha que me esforçar se quisesse fazer alguma diferença nesse mundo de mesmices.
Minha vontade era de chutar aquela pilha de caixas e gritar para a mulher que guardasse tudo de novo, e que dessa vez fizesse com uma carinha melhor.
Não por pura ignorância, mas se quiser crescer na vida, você tem que aprender a manter um sorriso, não importa o quão desagradável uma situação lhe pareça.
Aprendi que se eu conseguir manter a calma por fora, torna-se depois mais fácil manter a calma por dentro, e ir lidando com a parte que considero a mais complicada do mundo: eu mesma.
Eu sou difícil, sou difícil até comigo, tão difícil que me canso e me encontro sempre presa a este mar de audácia.
Se pudesse ler metade das coisas que se passam em minha mente, acredite em mim, você se assustaria.
As únicas certezas pré-estipuladas nessa vida são a do nascimento e a do óbito. E quanto a todo o resto? Bem, eu decidi assumir o controle.
Não sigo padrões nem regras estipuladas por pessoas que visam só o próprio beneficio.
Vivo exatamente como gosto e sem peso na consciência, depois de discutir o dia todo com tanta gente medíocre ainda consigo deitar e dormir nove perfeitas horas de sono.                                  
Desde pequena eu já sabia oque queria, eu não precisava de meias pessoas, meias historias nem serviços meia boca.                                                             
Eu precisava de algo que me completasse por inteira, algo intenso. E veja bem, hoje eu mesma me completo.
Sou direta, e tenho uma autoconfiança inabalável, não tenho muitos amigos próximos é complicado se relacionar com qualquer um quando se tem um ego tão grande que sente que um dia vai explodir dentro de você. Não que eu quisesse que muitos gostassem de mim, até porque eu não acreditava que haviam muitas pessoas no mundo que de fato me merecessem.
E ali estava eu no balcão assinando um cheque com minha letra garranchada. Por fim acabei levando apenas uma sandália simplesinha, oque era na verdade um insulto à loja, depois da quantidade de sapatos que havia experimentado. Ao me despedir da atendente, dei a ela um sorriso sincero misturado com um olhar que era mais como um pedido de desculpas. E por um segundo, somente um segundo eu vi a expressão dela mudar, acho que naquela fração de momento ela conseguiu capturar a minha verdadeira essência, eu não estava ali para irrita-la, eu também tinha meus próprios problemas, mas assim como tudo na vida de tanto machucar os pés com sapatos errados, você começa a ser mais exigente e se preocupar em servir antes de tudo seu próprio bem estar. Oque não tem nenhum problema, é claro, se no final você der um sorriso sincero e um olhar de desculpas. Quem dera se todas as pessoas fossem assim, ao menos sinceras.
Esse é o tipo de coisa que me encanta no mundo, e tenho que admitir que a expressão da atendente me deixou extasiada e satisfeita, sabe, é difícil encontrar alguém que consiga capturar minha real essência, aqui dentro ainda existe uma menina doce, cheia de sonhos e dúvidas sobre o mundo. É que às vezes é difícil até pra mim mesma me encontrar no meio de tantos caprichos, futilidades e cheques garranchados com essa assinatura de criança que parece mais um rabisco do que qualquer outra coisa.
 Pareço sempre tão decidida e centrada, mas na verdade, sinto que vivo sempre tão perdida, vivo perdida nas entre linhas dos meus textos escritos com palavras tão difíceis porem tão sinceras, vivo perdida nesse mundo fútil de sapatos tão caros e pessoas vazias, vivo perdida nos rascunhos, perdida dentro de mim, entre decisões e riscos, perdida entre caprichos e rabiscos.
 

                                                                                 Por

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